domingo, 4 de setembro de 2011

Perenidade da arte

Se há um conceito que eu gosto a priori da arte de rua é a sua perenidade. Estava eu voltando para casa e vi uma cena que é recorrente no universo do pessoal do grafite e da pichação ["xarpi"]. Um fulano estava desenhando por cima de outro que tinha feito o seu desenho há mais tempo. Há um movimento de substituição. Há a percepção que a sua produção tem uma data de validade. Há a noção de que somos todos substituíveis, finitos. Há uma sugestão do nosso tempo atual em que as pessoas não idolatram obras de pintores. [Ou não. Porque há sempre um louco que quer quebrar a parede para levar um Banksy para casa...]

Ou ainda porque cada situação é mais rápida e as pessoas querem substituir e consumir uma nova obra, em que libere suas endorfinas reservadas para os trabalhos que dão prazer.

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O passado é quase uma exigência de nossa memória e uma coincidência de nossas ações. Por isso, talvez, queiramos tanto preservar nossos monumentos. É desafiador pensar uma outra pessoa, em outro tempo, vivendo dentro daquele mesmo espaço. Como se vê, é mexer na relação espaço-tempo.

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As obras de arte sofrem desse mesmo raciocínio. Todas as pessoas querem ver a "Monalisa" e a "Capela Sistina". Bem, é claro que por outros motivos além desse, mas também porque são antigas, são obras que nossos avôs, nossos pais e nós mesmos nos acostumamos a repetir que são belas, impressionantes. É a tradição da arte. Gostamos porque fomos acostumados a gostar.

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É errado destruir a obra de outrem para produzir a sua? Tão errado quanto desenhar pela primeira vez. Por que a primeira deveria ser a melhor, ou a protegida? Isso lembra o conceito de "aura" do Benjamin, que todo mundo que fez comunicação deve ter lido [não é o meu caso]. A "aura" me lembra algo parecido com a alma. O que não é de assustar considerando o misticismo de seu autor. Mas é de assustar as pessoas ainda acreditarem em coisas como essa. Parece que Nietzsche não passou por aqui.

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"Artista é o caralho", diz o Rubinho Jacobina [que eu conheci de "oi-oi", rapidamente, no lançamento do "Autoassassinato" - hoje em dia tenho uma vergonha desse livro... do segundo "grande" também tenho, mas menor. Desse... nossa. Acho tão banal....] E não tem como negá-lo. Por que o "artista" deveria ser diferente do restante das pessoas? Por que as pessoas deveriam pagar para elas cantarem, para elas escreverem, para elas desenharem? O que é isso?

Escuto: exatamente porque eles não são diferentes deveriam receber dinheiro pelos seus trabalhos. Mas quem disse que cantar, escrever e desenhar é algo que deveria ser pago? Ou ainda, ou melhor: por que isso deveria ser quantificado por outra pessoa além da pessoa que quiser pagar? Tabelar a arte é destruir um de seus principais e intransferíveis segmentos que dá ao espectador o fiel da balança. Ou, em outras chulas palavras: gosto, cada um tem o seu.

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